Desde 2016 eu tava fazendo um disco, e agora tá pronto. Faz tempo que pesquiso artes musicais, mas sentia que queria ouvir coisas que não existiam. Com o tempo fui encontrando coisas parecidas com o que não existia, artistas que me mostraram outros ouvidos possíveis e foram influências diretas, como Diamanda Galás, Zeena Parkins, Lydia Lunch, Ikue Mori, Kim Gordon, Tricky, Björk; também devo muito a referências de prazo mais longo, como Madonna, Nico, Tom Zé, Tetê Espíndola, Gilberto Gil, Velvet Underground, Kraftwerk. Assim, este disco tem parentesco com os gêneros musicais no wave, illbient e música abstrata. Desde 2010 venho fazendo arte em diversas mídias, incluindo experiências musicais; assim, este trabalho também é herdeiro de pesquisas e projetos poéticos anteriores, sendo um disco de música destemporânea e de música transmídia – operei procedimentos de composição contrabandeados do teatro, do cinema e das artes visuais.
Em algumas músicas canto poemas que escrevi até 2016, quem já me ouviu em sarau talvez lembre de alguma coisa. O disco compartilha com meus outros trabalhos artísticos a experimentação com formas, temas e tons pouco usuais, dialogando criticamente com os maneirismos estéticos hegemônicos, permeados de normatividades mercadológicas, cristãs e psicologizantes. A produção é própria, desviada da arte industrializada e humanista, fugindo pra territórios discursivos fora dos cercamentos da música capitalista-cristã-colonial e buscando contribuir à reemergência de línguas que foram amputadas pela mercadorização que assola as artes. Assim, não são músicas curtas e dançantes que estarão “”em todas as plataformas digitais”; o disco está disponível no youtube e pra download, e em outras plataformas de acesso aberto sem cadastro, como bandcamp e soundcloud. Com “peçonhenta”, quero alargar ouvidos novos e entupir ouvidos velhos: com sonoridades exiladas da música comercial, teci musicalidades anacrônicas, inoportunas e intransigentes.
Agradeço profusamente as cavalas poderosas que contribuíram diretamente no disco, e vêm construindo arte e vida comigo todo esse tempo: os necrosamples da Xãtana Xãtara, as assombrações da Adelaide de Estorvo, os gorjeios da Kacire e os sopros da Elis Moraes; também as artes tipográficas da Bianca Berton na capa, e a ilustração da Roma na contracapa; e também Deivid Evaristo pela montagem dos vídeos no youtube.
credits
released March 9, 2021
Yuri Bataglia Espósito: produção, composição, letras, voz, piano, trombone, violão, teclado, flautas, xekerê, percussão em objetos, gravações de campo e música digital.
Xãtana Xãtara: música digital na faixa 6.
Kacire: voz na faixa 9.
Adelaide de Estorvo: voz na faixa 10.
Elis Moraes: sax na faixa 11.
Bianca Berton: lettering da capa.
Roma: ilustração da contracapa.
Deivid Evaristo: montagem de vídeo.
01 ablação
02 Lama
03 a priori
04 sofisma
05 Lodo
06 a paz de cristo (ft Xãtana Xãtara)
07 exangüe
08 corpo sem
09 ão (ft Kacire)
10 jejum (ft Adelaide de Estorvo)
11 véu de teresa (ft Elis Moraes)
12 sombras dos ontens
13 deus hoje
texto da faixa 8: colagem de trechos do livro “O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia I”, 1972, de Gilles Deleuze & Félix Guattari, com citações de Antonin Artaud e Baruch Spinoza.
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